O Primeiro Vôo

Era meados de agosto de 2005 e eu já havia me desligado do Centro Cultural onde trabalhava, e estávamos estreando a Salomé. A casa já estava praticamente desmontada e em cima do caminhão de mudanças tinha um sorriso e aos que ficavam, lágrimas. Era extremamente fascinante se sentir livre e cigana, à buscar novos rumos pelo mundo...um mundo absolutamente desconhecido e obscuro, que existia quase como um conto de fadas nos meus sonhos e na minha imaginação.

Foi então que em 10 de outubro de 2005, eu entrei num avião a primeira vez e fui para São Paulo. Lá encontrei meu irmão mais velho, que lá morava e trabalhava e junto à ele vislumbrei aquele incrivel momento.
Portanto, ao inicio da noite (se não estou enganada) embarquei num vôo da Lufthansa rumo à Frankfurt, Alemanha onde faria escala para Gotemburgo na Suécia. Tudo parecia tão simples!
Descer num país, ir para outro.
Quando entrei na aeronave um mundo solitário ali se iniciava, assim pensava que iria ser. Ao meu lado sentara um espécie de Viking Nórdico e os comissários de bordo só falavam alemão. Embora estivessemos embarcando em Guarulhos.
Para uma menina tão simples como eu, o que eu pensei foi só como iria me levantar dali para ir ao banheiro e comer, já planejando o jejum e a bexiga estocada por longas 12 horas.

Como alguém pode ser tão ingênuo Eu era. Fato. Meu mundo era muito limitado e eu estava absolutamente só. Foi então que de repente eu vi que não havia outra alternativa se não falar com aquele sujeito que me impedia o livre acesso até os banheiros, e ao vê-lo segurando o jornal, encorajei me em dizer (sem que ele perguntasse) - "This is my first international Flight" - Era uma das poucas coisas que sabia dizer em inglès.
A partir dali o Viking se tornou um anjo.Virou um amigo eterno. Seu nome é Eskil*. Conheci seus amigos que também estavam em viagem, e com os goles de Whisky que a Cia oferecia tomamos um grande porre à 55.000 pés do Oceano Atlantico onde até as turbulências viravam piada. 

Cantei músicas que não conhecia e ouvi sons de instrumentos que diziam que qualquer coisa estava por vir..
Copie e Cole o Link da Banda Deles tocando, num video clipe http://www.youtube.com/watch?v=iF6YkvFWA6c e ai embaixo

http://www.youtube.com/watch?v=iF6YkvFWA6c

Quando amanheceu, descemos em Frankfurt e para minha surpresa, não fomos direto para as estações de imigração onde se confere e carimba o passaporte. Fomos coagidos à levantar os passaportes, e os verdinhos (o brasileiro da época) foram abordados individualmente pelos agentes da Policia Federal de lá. Então cismaram comigo e com meu decote virtuoso. Eskil tentou me ajudar, mas sem chance.
Resumidamente, fui presa pela policia de Imigração, sem saber como e porque estava acontecendo aquilo comigo. Me abordaram e me mandaram ir para uma sala que fica debaixo do aeroporto, após você descer uma longa escadaria. Fiquei ali sentada inerte sem entender nada e ao meu lado uma bahiana louca surtava com os policiais que fumavam à nossa frente, em local fechado.

Passei lai 4 horas, tentando convencê-los de que não tinha intensão de estar ali ilegalmente, nem era prostituta, nem carregava drogas, e só queria encontrar uma pessoa que me esperava na Suécia. Foram horas intermináveis, salva por uma tradutora intérprete chamada Ines, que chegou do meio da tarde para me orientar naquela torre de babel, onde o Deutsh (lingua alemã) era o predomínio. Quando enfim me entregaram um envelope, já não sabia se ia ser deportada ou libertada. Enfim, eu abri sem querer a porta de acesso ao vão do aeroporto e em minhas mãos havia a passagem da Scandinavian Airlines.
Num vôo cheio de turbulèncias, numa aeronave minúscula, sem nem um cereal para comer ou uma água para beber, e com o comandante e o serviço de bordo falado todo em Sueco, aterrizei enfim num paraíso chamado Sverige ou Suécia.

*Eskil Romme é um fazendeiro e músico dinamarquês instrumentista e criador da banda FAERD de música celta, folclórica, viking e com vários elementos do World Music.
http://www.youtube.com/watch?v=I4PUAYgBTHc